quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Sebastião Nery, a "Bossa Nova" Udenista e Sarney

(Coluna de Sebastião Nery na Tribuna da Imprensa)

Os helicópteros de Carter e Lula

Os helicópteros voavam sobre São Bernardo, no ABC paulista, para amedrontar Lula e seus companheiros, reunidos no estádio das grandes greves do fim da década de 70, mas quem ficou apavorado foi o diretor da Volkswagen, que telefonou aflito para o empresário Mario Garnero, presidente da Anfavea (Associação dos Fabricantes de Veículos Automotores):

- Doutor Mario, os helicópteros estão passando bem em cima da nossa cabeça, da nossa fábrica, aqui, sobre a Volkswagen.

- Não tem importância, doutor. É apenas uma operação treino, do governo, de intimidação. Não vão fazer nada.

- Doutor Mario, os helicópteros do Jimmy Carter no deserto do Irã também não fizeram nada. Mas caíram cinco e mataram um punhado de gente. E os fabricantes são os mesmos.

CPMF

A Comissão de Justiça do Senado aprovou, afinal, a prorrogação da CPMF, depois que o governo fez uma série de promessas e assumiu uma longa lista de compromissos com os partidos e senadores que o apóiam, garantindo enviar logo para o Congrresso medidas provisórias e projetos diminuindo a fúria confiscatoria dos impostos, que já chega a quase 40%.

Como os helicópetros de Jimmy Carter no Irã e os dos militares em São Bernardo, as promessas e compromissos são todos do mesmo Lula que, em 5 anos de governo, até hoje não cumpriu uma só, um só. Aprovada a CPMF no plenário do Senado no começo de dezembro, vai logo começar a gritaria.
E Lula vai dizer que os compromissos são do Margarina, o Mantega.

Ombudsman

Na TRIBUNA DA IMPRENSA, o "historiador (sic) e analista político" Said Barbosa Dib diz que "a persistência de Sarney em defender a cláusula democrática como critério para o ingresso no Mercosul se justifica pela vida do ex-presidente: são 52 anos de vida pública sempre comprometida com as liberdades democráticas" (sic). E cita três fatos inexistentes e estrambóticos.

1 - "Como udenista bossa-novista (sic), já havia participado (sic) da luta contra a ditadura Vargas, mais sanguinária do que a dos militares".

Errado. Sarney nasceu em 1930. A ditadura Vargas acabou em 1945, quando a UDN surgiu, e Sarney era um fedelho de ginasial. A "Bossa-Nova" da UDN só iria ser criada no congresso da UDN em Recife, em abril de 1961, três meses depois da posse de Janio, pelos deputados Seixas Doria (de Sergipe), José Sarney (do Maranhão), Ferro Costa (do Pará), Adahil Barreto (do Ceará) e José Aparecido (ainda não deputado, só iria eleger-se em 62), que organizaram um grupo para apoiar as propostas "nacionalistas, reformistas e de interesse popular" de Janio, contra o grupo conservador "Banda de Música", liderado pelo deputado Herbert Levy (de São Paulo). No fim, fizeram uma composição: Levy foi eleito presidente da UDN e Sarney vice.

Said Dib

2 - "Único governador (sic) que ousou criticar (sic) o golpe de 64".

Errado. Em 64, Sarney ainda não era governador, apoiou o golpe (enquanto seus companheiros de fundação da Bossa-Nova foram todos cassados: Seixas, Ferro, Aparecido e Adahil - este já no PTB). Em 65, Sarney elegeu-se governador, ajudado pelo general Castelo Branco, que mandou o coronel João Figueiredo, do SNI, para participar da campanha de Sarney lá.

Um Sarney

3 - "Durante o governo Geisel, Sarney ajudou (sic) o presidente a quebrar as resistências (sic) da `linha-dura' e de seu próprio partido, a Arena, contra o processo de distensão política".

Errado. Em setembro de 73, a Arena homologou para presidente o nome de Geisel, que só assumiu em março de 74. Sarney fez tudo para Geisel nomeá-lo de novo governador e não conseguiu. Geisel sabia muito bem quem era Sarney e o que ele pensava. No dia 30 de dezembro de 73, com Geisel já escolhido presidente, o jornal "Estado do Maranhão", de Sarney, republicou, na primeira página, uma entrevista de Sarney dada na véspera ao "Globo":

"Sarney: a abertura só virá com a expansão (sic) do sistema".

"O senador Sarney, da Arena do Maranhão, advertiu que qualquer outra espécie de abertura que não seja a expansão (sic) do sistema é cair no irrealismo, na falta de objetividade".

"Sistema" era o regime militar, a ditadura. Defendendo a "expansão do "sistema", Sarney defendia a ampliação, o endurecimento do regime, da ditadura, mais ainda do que no governo Medici, o que era exatamente a posição da "linha dura", que tinha sido derrotada com a escolha de Geisel.

Outro Sarney

4 - O "historiador" (sic) Said está inteiramente certo é quando diz que "assumindo a presidência (em 85), Sarney soube garantir o delicado processo de redemocratização pós-regime militar, acabando com o entulho autoritário, comvocando a Constituinte, legalizando partidos clandestinos e garantindo liberdades essenciais, como a da imprensa e a sindical".

São dois Sarney. O da ditadura e o da democracia. O da ditadura achava pouco e queria mais. O da democracia passou caol no seu nome para a história.

Fonte: Tribuna da Imprensa Online

http://www.tribuna.inf.br/coluna.asp?coluna=nery